Estudos Bíblicos


REIS DE ISRAEL

  • REI SAUL:

Saul tinha todas as qualidades desejáveis a um rei. Carisma capaz de arregimentar. Soldados, autoridade para comandar tropas e ímpeto para se lançar à guerra. O primeiro monarca israelita ainda contava com aparência digna de um herói. "Era mais alto do que todo o povo do ombro para cima. E tão belo, que entre os filhos de Israel, não havia outro mais belo que ele" (I Sm.9:2 e 10:23).
Em 1020 a.C., escolhido por uma profecia, Saul foi entronizado sob intensa aclamação popular. Os inimigos filisteus estavam em plena ofensiva expansionista e o talento bélico de Saul fazia-se necessário e urgente. No entanto, as vitórias iniciais em campo de batalha não evitaram a ruína pessoal desse camponês de família próspera e a de todo o reinado. Saul não contava com um exército ao assumir o posto de rei. Ia para a guerra com pequenos grupos de defesa, formado por soldados- camponeses que convertiam suas facas de podar em lanças e lâminas de arado em espadas. Não se pode chamar de exército esse contingente de homens voluntários, despreparados tecnicamente, que voltavam à agricultura depois da batalha, diz o teólogo Nelson Kipp. Foi com essas forças populares que Saul montou a base de sua estrutura militar e enfrentou filisteus, amonitas e amalequitas. Esse exército não estava sempre pronto para o confronto com o inimigo e havia toda uma estrutura religiosa que tornava lenta sua mobilização. Coube a Saul dar os primeiros passos na formação de uma tropa permanente, modesta, mas eficiente. Para isso, o rei passou a agregar para si todos os homens fortes e valentes que via (I Sm 14:52). Criou uma guarda pessoal composta por guerreiros, agora desvinculados de suas origens aldeãs. Instituiu-se pela primeira vez, assim, a profissão de soldado em Israel. Sob o reinado de Saul a tropa regular chegou a ter 600 homens. outra novidade militar do reinado de Saul foi a nomeação, por vínculo familiar, de um comandante das tropas populares. Quem assumiu o posto foi Abner, membro de sua família. "Não é mais o espírito de Javé quem determina a liderança das tropas populares nem os anciãos, o rei o faz".
Saul foi traído pela sua própria falta de bom senso, pela personalidade instável e pelo desequilíbrio emocional. Em apenas 2 anos, segundo a Bíblia, o homem que angariou todas as esperanças de um povo conheceu a glória e a total decadência. "A ascensão de Saul foi uma  resposta à crise militar. Cumprida essa missão, faltava a Israel um  rei capaz de unir a população e criar uma infra-estrutura administrativa e Saul não foi racional o suficiente para isso"diz o arqueólogo e teólogo Matthias Grenzer. 
Os percalços começaram por desobediência às ordens do Deus do Antigo Testamento, quase sempre implacável. Segundo a Bíblia, ao usurpar leis sacerdotais, "O Espírito do Senhor se retirou de Saul" (1 Sm. 16:14). Rejeitado por Ele e sem o apoio do profeta Samuel, que o ungiu, o monarca tornou-se uma figura trágica. Oscilava entre estados de ira e de melancolia. Em vez de se concentrar em enfrentar os filisteus, ficou obcecado em matar Davi, pois temia que ele o substituísse. Assim, o rei que  conduziria Israel ao triunfo sobre os inimigos perdeu aliados e, gradualmente, a própria sanidade. "O maior inimigo de Saul era ele mesmo", diz o Teólogo Esttevam Bitencourt.
A ascensão e a queda de Saul são descritas na Bíblia, no primeiro Livro de Samuel. A obra credita a ele apenas dois anos de governo. Estudiosos pressupõem duas décadas. Historicamente, toda a narrativa bíblica sobre Saul deve ser interpretada com cautela. 
Apesar de inaugurar a monarquia em Israel, o governo de Saul representava mais um período de transição entre a antiga organização tribal e a monarquia do que o estabelecimento de um reinado de fato. Por quatro séculos, os judeus jamais haviam experimentado um governo central fixo. Nos 200 anos antes a este período. diferentes juízes tomaram parte na história. Eles assumiram não só papel de liderança espiritual como também prontificaram-se a recrutar soldados e a comandar a defesa da nação. Até que, em 1050 a.C., a trégua que os filisteus mantinham com os filhos de Israel chegou ao fim. Esse povo tinha um poderio militar sem precedentes e já havia conquistado territórios dos judeus. Na região das colinas, em Afec (perto da atual Tel-Aviv), os israelitas confrontaram-se com um inimigo nunca antes visto. Os filisteus mataram sacerdotes, destruíram o templo de peregrinação de silo e tomaram como desposo a Arca da Aliança.
O roubo da arca foi um duplo golpe. Apesar de o objeto ter sido devolvido mais tarde, o povo de Israel julgou que havia chegado o tempo de fazer como seus vizinhos e jurar fidelidade a um líder militar. Javé permanecia soberano, mas o morarca uniria os clãs, então dispersos e conduziria os soldados camponeses contra os treinados e armados guerreiros filisteus. E assim Saul foi feito rei. Uma das versões sobre a ascensão de Saul que aparece na Bíblia demonstra a insatisfação do profeta Samuel, já idoso, diante do pedido do povo por um rei. O profeta, em nome do Senhor, previne o povo dos perigos da monarquia: Um rei humano escravizaria os filhos de Israel na guerra ou na lavoura e tomaria seus rebanhos. Apesar da advertência, o povo ainda insiste e, num gesto de concessão, Javé instrui Samuel a reconhecer o eleito. 
Saul da tribo de Benjamim, na região central, então é ungido secretamente, depois de sair para procurar as jumentas de seu pai. Saul teve muito êxito em congregar tribos para a formação do primeiro exército de Israel e impedir a investida de inimigos filisteus, mais bem preparados militarmente. Nas primeiras batalhas, sagrou-se vitorioso. Após submeter os amonitas, que se aproveitavam que Israel ainda ensaiava seus primeiros passos para expandir seu território, ele foi apresentado ao povo como monarca. Mas o sucesso durou pouco. "A falta de habilidade do rei em conciliar as necessidades do novo momento histórico com as antigas  tradições religiosas foi o principal motivo do fracasso", diz o Teólogo Nelson Kipp. Foi um erro imperdoável. Naquele tempo, toda guerra era santa. Cabia a Saul seguir as instruções que Javé transmitia aos profeta Samuel. Num enfrentamento com filisteus, por exemplo, a orientação dada a Saul era só começar a batalha depois de um ato feito por Samuel. Um sacrifício deveria ser oferecido a Deus para incutir a fé nos soldados israelitas, mas como Samuel demorava a chegar, Saul tomou seu lugar . Diante do desânimo das tropas, o próprio monarca executou o ritual sagrado. O rompimento definitivo de Saul com o profeta Samuel ocorreu na guerra contra os amalequitas em que Israel saiu vitorioso. Javé por meio de Samuel, havia mandado Saul exterminar tudo em Amaleque: homens, mulheres, recém-nascidos e animais. Justificou o procedimento pela relação pouco amistosa com os antepassados daquele povo, que não deixaram os filhos de Israel passar por seu território em direção a terra prometida, 500 anos antes. entretanto Saul teve pena do Rei amalequita Agag e também poupou a vida dos animais e Deus o rejeitou definitivamente.  De acordo com o rabino Sobel, Saul representa para os judeus a imagem de um rei que potencialmente seria o maior de Israel, mas não soube administrar seus conflitos pessoais. 
Depois do rompimento do Samuel, o monarca se viu cada vez mais perturbado. Ainda sob a ameaça dos filisteus foi esvaziado de sua autoridade. Embora desfrutasse posição confortável entre as tribos da região central da palestina, não teve habilidade política para ganhar o apoio de todas as tribos. Saul temendo perder o poder, passou a se comportar de forma desequilibrada, com ataques de raiva, surtos obsessivos e manias de perseguição. Suspeitava de todos, inclusive dos aliados. Entre eles, Davi, jovem pastor de Belém, que chegou para consolá-lo com música e poesia. Quando esse rapaz ganhou notoriedade ao derrotar o gigante Golias, o inseguro monarca foi tomado de inveja. Lançou-se numa incansável perseguição pelas montanhas e desertos do reino.
Em um dos seus acessos de fúria, ordenou a morte de 85 sacerdotes que acolheram Davi na cidade de Nobe e, não satisfeito, atravessou a espada, ele mesmo, nos homens, mulheres, crianças e até animais daquela localidade. Depois de emboscadas mal sucedidas contra Davi, Saul ainda se viu desesperado por não mais controlar o avanço filisteu. Então o rei recorreu aos conselhos de Samuel já morto, através de uma feiticeira. Do espírito do profeta ouviu a sentença: Tu não deste ouvidos à voz do Senhor. Amanhã estarás comigo" (1 Sm 28:19). No campo de batalha, Saul viu seus três filhos morrerem em combate. Já ferido, desesperado, disse ao escudeiro: "Arranca a tua espada, e atravessa-me com ela. Porém, o seu escudeiro não o quis, porque temia muito; então tomou Saul a espada e se lançou sobre ela" (1 Cr.10:4).
Saul foi um rei sem palácio ou corte suntuosa. Pesquisas arqueológicas norte-americanas comprovaram que ele morava numa fortaleza militar. Os alicerces descobertos nas escavações evidenciaram a existência da construção simples de apenas quatro torres, erguida na terra natal de Saul, Gibeá de Benjamim. As ruínas de Gibeá em cujos muros Davi tocou sua harpa para Saul, foram descobertas a cerca de 5 quilômetros ao norte de Jerusalém.

Coleção Grandes Heróis Bíblicos
Revista das Religiões

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário